Em 1998, senti uma grande desilusão. As pessoas não ligaram muito ao referendo e e um grande número não foi votar. Foi nessa altura que vi que se tratava de uma grande questão, mas com pouca adesão. Não votar numas eleições pode demonstrar uma não identificação com o sistema político vigente. Eu aceito essa postura. O que eu não comprendo é como é que as pessoas não votam num referendo que pode fazer a diferença.
Para mim, é uma questão de vida. não de morte. Como é que se pode argumentar que o número de abortos aumenta ao despenalizar-se a interrupção voluntária da gravidez quando o volume de abortos clandestinos é totalmente desconhecido? Ou seja, o número oficial de abortos até pode crescer 200% depois da despenalização, uma vez que a maioria dos abortos que se faziam antes eram "off the record". Eram não oficiais, não contáveis.
Todos nós conhecemos casos mais ou menos próximos. Todos nós sabemos que não se faz um aborto de ânimo leve.
Sabendo que os abortos sempre se fizeram e sempre irão fazer-se, é uma hipocrisia afirmar que, com a penalização da interrupção voluntária da gravidez, os abortos são evitados e se dá prioridade à vida. Na maior parte dos casos, uma vida de verdadeira pobreza, uma vida de 5,6 ou 7 irmãos, uma vida com as maiores probabilidades de não ser uma boa vida.
O aborto não é, obviamente, a solução única e ideal (para isso se deve reforçar o planeamento familiar). No entanto, deve existir, como uma opção.
Eu voto e voto SIM.